16 de nov. de 2011

Chiaroscuro


Um, dois. Oito, oitenta. Positivo, negativo. Mais do que você imagina, menos do que você precisa. O aroma das rosas vermelhas, o fedor de um lixão. Um hermano brasileiro, um samba de uma nota só. Sou pó, sou nuvem, sou céu, sou terra. Um desejo, um medo, um sim, um não.
Este sou eu.

Água barrenta, pureza da nascente. Rio Negro, Solimões. Oiapoque, Chuí, um dia de sol, uma noite de chuva. Existo, sou pensado. Fruto do trabalho alheio, produto da minha imaginação. Eu penso, eu esqueço. Sou mel, sou fel. Sou vida breve, sou morte eterna.
Este sou eu?

O canto da sereia, o grito dos bueiros. Sou o som, sou silêncio. Te ensurdeço, te enlouqueço. Olho, não vejo. Vejo, não olho. Uma boca que exclama, um coração que interroga. Sou ponto, sou vírgula. O pecado, a redenção. Meu caviar, sua carne de segunda. Hoje, ontem, amanhã. 
Este sempre fui eu.

Uma espada. Corta aqui, fere lá. Sangue, vinho, pão. Carne podre, alma nobre. Um Valentino, uma roupa qualquer. Quiosque, grande comércio. Socialismo, burguesia, americano, soviético. Sou aliado, ao mesmo tempo sou eixo. Alinho e desalinho, ajudo e atrapalho. Decido minha indecisão, estou certo de minhas incertezas.
É, este sou eu mesmo.

A solução e o problema. A causa e a conseqüência. O fim e os meios. Sorria para mim, agora chore comigo. Causo pena, gero espanto. Mostro, escondo. A verdade e a mentira, o côncavo e o convexo de uma vida inconstante. Realidade, mera miragem. Um anjo de vermelho ou um demônio com asas. Louco e santo.
Será?

Sinônimos de um antônimo ambulante, crente no ceticismo do mundo. Quem muda sem sair do lugar, o giro sem rotação, a calmaria tempestuosa de um mar revolto, envolto em paz e sutileza. A ausência presente, o frio que aquece, a chegada, a despedida. Fico, vou, volto, não sei. Eu sei. Sou claro, sou escuro. Sou bem, sou mal. Sou nova versão da mesma esfinge.
Pelo menos agora, este sou eu.

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E o Outro Inconstante abre em grande estilo com um texto do meu colega de curso Gustavo Ferreira, dono do Etc&Tal. Assim como em mim, o jornalismo corre nas veias desse paraense nato, o que se mostra verdade em seu outro blog, o Repórter E, onde ele começa a dar sinais de um futuro mais que promissor na área da comunicação. Fico imaginando como ele consegue cuidar de DOIS blogs enquanto morro tentando atualizar um. Enfim, alguns nasceram pra esse tipo de coisa. E, pelo texto, pode-se ter certeza de que ele nasceu pra lidar com palavras.

Um comentário:

Luna Sanchez disse...

Gostei do texto, da consciência que o autor demonstra de si, das suas possibilidades todas.

Beijos aos dois.