12 de jul. de 2013

Liberdade

Photo: weheartit
Aquele corredor nunca antes lhe parecera tão cumprido. Tentou não pensar no tempo que insistia em não passar, na distância que continuava relutante em diminuir e começou a pensar no que faria assim que saísse daquela prisão. Com certeza iria procurar a Bia. Pensou em como ela estaria agora. Seus cabelos ainda seriam loiros? Talvez não, adolescentes gostam mesmo é de mudança. Ele só desejava que ela não usasse roupas muito curtas. Não queria marmanjo nenhum cobiçando a filha dele. Ah, mas ele não iria se preocupar com isso agora. Não quando ele finalmente havia conseguido o que desejou por longos dez anos. A liberdade agora encontrava-se a poucos passos de distância - poucos, "mas esse corredor não acaba nunca, meu Deus?" - e ele não teria que passar nem mais um dia da sua vida em uma cela pequena e suja. Ele agora viveria os seus dias ao lado da Bia, veria Sandra todo dia e deitaria ao lado dela à noite, feliz e agradecido aos céus por estar finalmente em casa. Pagara sua dívida, corrigira seu erro e não havia mais nada que pudesse impedi-lo de recomeçar a procurar a felicidade que um dia sentira tão vivamente. Mas aquele corredor ainda teimava em não chegar ao seu fim. Na verdade, agora que prestava mais atenção, parecia que aquele corredor tornara-se maior, mais cumprido. Apertou o passo, tinha que sair logo daquele lugar, passara muito tempo ali. Começou a ficar apreensivo e ofegante, a medida que andava mais depressa. Tentou correr, mas o guarda ao seu lado segurou seu braço e o impediu. Olhou rapidamente para o guarda que ainda segurava seu braço e virou-se para o corredor, tinha que continuar, não podia parar agora. Porém, a luz que instantes atrás estava ali a poucos metros dele, começara a se distanciar. "Não, volta aqui!", ele precisava sair, tinha que deixar aquele lugar, mas o guarda segurou seu braço com mais força. "Por favor, me deixa ir, já paguei pelos meus erros, quitei a minha dívida", mas nem o guarda nem a luz pareciam lhe ouvir. A mão no seu braço não afrouxou o aperto e a luz correu para mais longe, tão longe que logo se tornou um pequeno ponto e depois se apagou, deixando-o no escuro, apenas sentindo que ele perdera a chance de ser livre novamente. E a mão no seu braço, ainda apertando forte, parecia fazer questão de lembrá-lo de que ele ainda estava preso.

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