O silêncio incomodava. Mesmo não sendo silêncio por completo, pois as palhetas do ventilador girando produziam um ruído não muito alto mas macio - ainda assim, sentia-se incomodado.
Deitado na cama, procurando distração, olhava para o teto. E olhando mais atentamente, veria algumas teias de aranha espalhadas lá por cima. A maior e mais bem construída ficava perto da lâmpada. Imaginou se as aranhas sentiam frio. É claro que deveriam sentir, o que seria um motivo para se fixar perto da lâmpada, que emitia um pouco de calor quando acesa por certo tempo. Outro motivo deveria ser a facilidade para conseguir alimento, já que no inverno alguns insetos rondam lâmpadas, provavelmente procurando calor também. Imaginou quantos já haviam caído naquela armadilha. Procurou a aranha, dona da teia, mas desviou sua atenção quando julgou ouvir um barulho. E vinha do teto. Um estalo, depois outro, um menos forte e depois vários, formando a chuva que começava a cair. Sorriu. Pensou que o silêncio havia sido quebrado pelas gotas de água no telhado. Não incomodava tanto.
Pensou em levantar-se, ligar a TV, mas resolveu ficar ouvindo o barulho da chuva, agora mais fina, porém não menos persistente.
Olhou para o teto e imaginou a chuva caindo, uma brisa fazendo os pingos caírem diagonalmente. Seus olhos encontraram a teia novamente e ele percebeu um pequeno inseto, preso, tentando se desvencilhar, mas se enrolando ainda mais. Sentiu pena, primeiro, uma vontade de ajudá-lo. Depois, porém, a compreensão de que aquilo fazia parte da vida tomou o lugar da pena.
Sentiu-se como o inseto, lutando para sair da teia que o prendia cada vez mais. A teia: a vida que levava desde que ela se fora. Ele esperava a aranha aparecer para deliciar o banquete. Ela não apareceu. E o inseto ficou lá, esperando, já cansado de lutar. Perguntou-se se ainda tinha forças para tentar se salvar ou se, assim como o inseto, já havia desistido. Perguntou-se também quando a aranha viria. A chuva começava a cessar e daqui a pouco não haveria mais barulho para lhe proteger do silêncio.
Levantou-se com dificuldade. Ligou a TV. Voltou para deitar. A chuva parou. O filme na TV parecia interessante. Olhou para o teto: o inseto não estava mais na teia. Havia conseguido fugir ou a aranha fora mais rápida que ele? Ah, pensou, é como tem que ser. Voltou os olhos para o filme e esperou a aranha sentir fome.
5 comentários:
Nossa, que criativo esse texto. Gostei bastante da maneira como você descreveu essa coisa da vida. O que tem que ser, será. Mas acho que sempre há dentro de nós uma força escondida, a força que precisamos para lutar :D
Adorei*-*
Bgs e bom final de semana :*
con.for.mis.mo
sm (conform(ar-se)+ismo) 1- Conformação com os costumes ou opiniões de outrem ou com qualquer situação; 2- Ato de se conformar; 3- Tendência para se conformar facilmente.
Nada É Impossível De Mudar
Desconfiai do mais trivial ,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.
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