26 de nov. de 2011

Entre caçadores e ladrões


Ando tendo um sonho estranho amiúde. É como se ele fosse dividido em partes, como os filmes da sessão da tarde, e aos poucos vão sendo reveladas. A primeira noite me mostrou um jardim, lindo e cheio de flores exóticas. Achei aquilo tudo muito interessante, mas quando fui pegar uma das flores, o jardim se abriu em um abismo. Fui caindo, caindo, até que caí em um lugar escuro em que eu sentia, mas não enxergava o chão nem nada ao redor, ao mesmo tempo em que eu tentava encontrar um lugar para me segurar, eu tinha medo de tocar em algo errado e me machucar. Acordei.

No segundo dia, eu continuava no escuro quando, de repente, alguém segurou a minha mão e me conduziu até um lugar iluminado e muito colorido, senti uma alegria tão grande que não queria mais sair dali. Eu não olhava, mas sentia que alguém segurava as minhas mãos, bem forte, como se não fosse soltar nunca mais. Quando aquela segurança me deu coragem para buscar os olhos daquele alguém, eu vi nuvens se abrindo e ela largou a minha mão. Caí. Vi pessoas se machucando, se ferindo, se magoando. A angústia vestiu completamente o meu ser.

No terceiro dia, completamente triste e com o coração apertado, chorei tanto que minhas lágrimas formaram um rio e as águas brilhavam como diamantes. De repente, um príncipe aparecia em um barquinho simples, ele me estendia a mão para ir com ele e sem perceber a contradição dessa cena, eu entrava no barco. Ele remava, ao passo que recitava poesias, aos poucos fui parando de chorar. Quando, finalmente, minhas lágrimas secaram, ele encostou o barco, me pediu pra ficar ali e esperar até que ele voltasse.

No quarto dia, eu ainda estava a esperá-lo. No quinto dia, eu ainda estava a esperá-lo. No sexto dia, eu ainda estava a esperá-lo. No sétimo dia, eu cansei de esperar e levantei, entendi que ele não mais voltaria. Decidi andar e procurar alguma coisa ou alguém por ali, encontrei uma floresta, com medo, mas sem opção, entrei. Eu vi serpentes, eu vi onças, eu vi leões, eu vi pássaros e corujas, mas nenhum desses animais me acompanhou.

Ontem, eu me vi sozinha, cercada de animais, de plantas, de flores, mas não vi ninguém que pudesse me ajudar. Até que fui tocada por um caçador, que prometeu me tirar dali se eu lhe desse o meu coração. Eu não tinha muito tempo para pensar, ou aquilo ou eu jamais sairia daquele sonho. Peguei uma faca, abri meu peito e retirei meu coração, quando eu estava pronta para entregá-lo ao caçador, eis que aparecia um ladrão e roubava o meu coração...

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Ao longo dos anos, aprende-se. O tempo passa e, a partir de momentos bons e ruins, aprende-se a lidar e a entender melhor a vida. Acho que tempo define muito bem o Entreletr@s. Raíssa parece ter vivido bastante em tão pouco tempo. Daí encontra-se a maturidade - que nada tem a ver com idade - nos seus textos. A partir de momentos vividos por ela (e por que não por outros também?), surgem textos que demonstram paixão, fraqueza, medo, amor, felicidade, desilusão, ódio, ad infinitum.

Esse deve ser um dos motivos de tê-la convidado para o OUTRO INCONSTANTE: a verdade que se encontra em cada palavra dos textos que ela escreve.

Um comentário:

Luna Sanchez disse...

Príncipe em barquinho é uma cena que sempre me comove, talvez pela minha certeza da sua não existência...

Gostei do post.

=)

Um beijo.