23 de ago. de 2012

A mudança


NOTA: Ler esse texto apenas se você já assistiu o filme Billy Elliot ou caso você não se importe de saber o final do filme.


Photo: weheartit
Eu sabia que minha vida ia mudar. Soube logo quando aquela carta chegou. Não importava o conteúdo. Quer dizer, importava e muito. Meu futuro dependia daquilo. O que eu quis dizer é que, de uma forma ou de outra, a minha vida mudaria. Sim ou não, nada seria mais o mesmo.

Meu pai estava sentado na cozinha quando cheguei. Nunca o tinha visto daquele jeito, todo nervoso, ansioso, preocupado. Ele poderia muito bem começar a arrancar tufos de cabelo se já não estivesse completamente careca. Meu irmão estava encostado na pia. Nunca nos demos muito bem, mas lá estava ele, quase do mesmo jeito que meu pai, só que mais contido. E aquela carta em cima da mesa. Nunca vou saber explicar o sentimento que percorreu todo o meu corpo nessa hora.

Mas depois de um tempo, eu finalmente abri a carta. É, foi assim. Tomei coragem e apenas a abri. Descobri meu futuro e não sabia como tudo seria depois daquilo. A resposta foi positiva, eu fui aceito, eu finalmente poderia realizar meu sonho e fazer o que eu mais gostava de fazer pelo resto da minha vida. Mas eu não me sentia completamente feliz. Não que não fosse suficiente. É só que, pra fazer o que eu queria, eu teria que deixar muito de mim pra trás.

Deixaria a cidade em que eu cresci e que, mesmo não sendo grande coisa, era a minha cidade, no fim das contas. Meu pai, meu irmão, minha vó. Pessoas que, mesmo não convivendo muito bem algumas vezes, eram minha família. Ter que se afastar da família é difícil, dói. E a gente nunca se acostuma. Eu, pelo menos, nunca me acostumei, tampouco tentei. E ainda tinha meu melhor amigo, minha professora que me ensinou muito do que aprendi e outras pequenas lembranças que construíram o que eu sou hoje.

Mas a resposta foi positiva, eu sabia o que tinha que fazer. Eu seria feliz fazendo o que eu gostava de fazer. Foi aí que eu aprendi que nunca se é completamente feliz. A gente tenta, mas nunca se pode. Deve ser proibido ou algo do tipo. Mas mesmo assim se pode ser feliz sem reclamar. Então eu aceitei minha escolha. Deixei algumas coisas pra trás pra poder abraçar um mundo novo. Foi aí também que aprendi que deixar pra trás não implica necessariamente em esquecer. Eu nunca esqueci.

2 comentários:

Gustavo Ferreira disse...

Todos os dias a gente acaba deixando algo de nós pra trás.

Nati Pereira disse...

Creio que tudo depende de nós, se tu quer, tu consegue e vai em frente, caso contrário fica no mesmo lugar a vida inteira. Beijo