23 de set. de 2013

Transbordar

Photo: Melody of Life
- Posso entrar?

A pergunta veio logo após ela ouvir duas leves batidas na porta. Levou as mãos aos olhos, enxugou o rosto o mais depressa que pode e, mesmo querendo que ele não a visse daquele jeito, ela respondeu:

- Pode, sim.

A porta abriu e o rosto branco e cauteloso dele apareceu, trazendo a luz do corredor que iluminou o quarto escuro e bagunçado. Ele procurou o interruptor, acendeu a luz, olhou o espaço por um momento e depois se deteve nela. Percebeu os olhos inchados e vermelhos.

- Tava chorando?
- Não, tô com sono, só - ela se apressou a dizer.
- Muito sono, pelo visto.

Ele fechou a porta e foi até a cama, onde ela estava deitada, com um travesseiro molhado em diversas partes.

- Se tá com sono, não é melhor dormir?
- Quem dera fosse tão fácil.
- Tenta me explicar, quem sabe eu entendo.
- Não tô com cabeça pra isso, Léo.
- Então o que eu posso fazer pra te ajudar?

Ela balançou a cabeça lentamente, fixando o olhar em algum ponto na colcha branca que cobria a cama. Por um instante ele teve a impressão de que ela fosse recomeçar a chorar. Ao invés, ela olhou pra ele e perguntou:

- Por que diabos você ainda tá aqui?
- Tô preocupado com você - respondeu ele, de um jeito que ela sabia que só podia ser verdade. Ele normalmente ficava nervoso quando mentia.
- Eu tô ótima. Não vale a pena grilar comigo.
- Será mesmo, Ana?
- Tô dizendo, Léo - confirmou. - Tô ótima e não quero te ver preocupado comigo. Tens coisas mais importantes pra fazer.
- Não importa.

E então ela não conseguiu mais suportar, os dias anteriores e as lágrimas foram mais fortes que ela e tudo voltou a doer. Ela agarrou o travesseiro já molhado. Ele agarrou a mão dela, depois o corpo inteiro e não se importou quando sentiu as lágrimas dela molhando a sua camisa nova. Ela precisava dele mais do que ele precisava dela, mais do que ele precisava da camisa nova, mais do que ele sequer achou que ela precisaria. E durante muito tempo ele cuidou dela, esperando que aquele abraço pudesse fazer com que todas as coisas ruins fossem embora da vida dela.

Nenhum comentário: