Photo: Melody of Life |
- Posso entrar?
A pergunta veio logo após ela
ouvir duas leves batidas na porta. Levou as mãos aos olhos, enxugou o rosto o
mais depressa que pode e, mesmo querendo que ele não a visse daquele jeito, ela
respondeu:
- Pode, sim.
A porta abriu e o rosto branco e
cauteloso dele apareceu, trazendo a luz do corredor que iluminou o quarto
escuro e bagunçado. Ele procurou o interruptor, acendeu a luz, olhou o espaço
por um momento e depois se deteve nela. Percebeu os olhos inchados e vermelhos.
- Tava chorando?
- Não, tô com sono, só - ela se
apressou a dizer.
- Muito sono, pelo visto.
Ele fechou a porta e foi até a
cama, onde ela estava deitada, com um travesseiro molhado em diversas partes.
- Se tá com sono, não é melhor
dormir?
- Quem dera fosse tão fácil.
- Tenta me explicar, quem sabe eu
entendo.
- Não tô com cabeça pra isso,
Léo.
- Então o que eu posso fazer pra
te ajudar?
Ela balançou a cabeça lentamente,
fixando o olhar em algum ponto na colcha branca que cobria a cama. Por um instante
ele teve a impressão de que ela fosse recomeçar a chorar. Ao invés, ela olhou
pra ele e perguntou:
- Por que diabos você ainda tá
aqui?
- Tô preocupado com você -
respondeu ele, de um jeito que ela sabia que só podia ser verdade. Ele
normalmente ficava nervoso quando mentia.
- Eu tô ótima. Não vale a pena
grilar comigo.
- Será mesmo, Ana?
- Tô dizendo, Léo - confirmou. -
Tô ótima e não quero te ver preocupado comigo. Tens coisas mais importantes pra
fazer.
- Não importa.
E então ela não conseguiu mais suportar,
os dias anteriores e as lágrimas foram mais fortes que ela e tudo voltou a
doer. Ela agarrou o travesseiro já molhado. Ele agarrou a mão dela, depois o
corpo inteiro e não se importou quando sentiu as lágrimas dela molhando a sua
camisa nova. Ela precisava dele mais do que ele precisava dela, mais do que ele
precisava da camisa nova, mais do que ele sequer achou que ela precisaria. E
durante muito tempo ele cuidou dela, esperando que aquele abraço pudesse fazer
com que todas as coisas ruins fossem embora da vida dela.
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