Texto escrito em parceria com Amanda Campelo.
Photo: weheartit |
– Sempre soube que a gente nunca
ia dar certo.
– E por que insististe no erro?
– Ah, sei lá, momento. Eu tava me sentindo sozinho, precisando de alguém. Apareceste na hora na certa. Não tô te desmerecendo, me fizeste um bem muito grande. Mas somos parecidos demais pra conseguirmos manter isso.
– Ah, sei lá, momento. Eu tava me sentindo sozinho, precisando de alguém. Apareceste na hora na certa. Não tô te desmerecendo, me fizeste um bem muito grande. Mas somos parecidos demais pra conseguirmos manter isso.
– Um bem muito grande? Então
agora me resumo a isso? "Um bem muito grande"? Jamais pensaste o que
este teu momento de fraqueza pudesse te custar? Ou que pudesses machucar
alguém. E nesse caso, o alguém é a tola aqui. Não se sai pelas ruas vagando
atrás de um colo apenas por questão de momento, Diego. E agora nossas
semelhanças tornaram-se incômodas? Agora nossos detalhes são uma razão a mais
para que tudo acabe?
– Pra mim, pessoas muito
parecidas não conseguem se dar bem por muito tempo. Tiro pelos meus outros
relacionamentos, amorosos ou não. Odeio quando começo a enxergar no outro o que
eu não gosto em mim.
– Então é isso? Mais um daqueles
teus momentos de reflexão do universo e frases filosóficas? Por Deus! Desde
quando gostarmos das mesmas músicas e termos o mesmo gênio se tornou algo tão
insuportável? É isso tudo mesmo ou apenas um rodeio para esconder as
verdadeiras razões? Não tenta me poupar por pena, sei me cuidar. Só quero que
sejas sincero. Ou pelo menos tentes.
– Mas eu realmente tô sendo.
Odeio quando enxergo nas pessoas o que não gosto em mim. Por exemplo, a tua
mania de nunca terminar as coisas que prometes fazer. Eu sou assim também.
Lembra o livro que começaste a escrever? Cadê? Continua lá, com duas páginas,
algumas frases soltas e um título extremamente idiota. Eu sou assim também, e
odeio isso em mim. Então odeio isso em ti. Moral da história: odeio encarar
meus defeitos.
– E vais seguir nessa rotina até
quando? Até encontrares o teu oposto complementar? Isso nunca vai acontecer. A
verdade é que tens que crescer, e tá mais do que na hora de encarares os fatos:
tens medo dos teus defeitos. Tem pavor de enfrentá-los e por isso simplesmente
vive camuflando esses teus erros. E dessa vez não tá sendo diferente. Estás
jogando mais uma vez as coisas embaixo do tapete porque não consegues criar
coragem para encarar as coisas de frente. Eu só quero saber até quando?
– Eu também quero saber até
quando.
– Tá vendo só? Não tens certeza
das coisas que queres. Para de ser infantil e de se apoiar nos outros. Cria
coragem de enfrentar teus medos. Define teus defeitos, que são muitos. Mas define
sozinho, pois eu me cansei de ser apenas um bem muito grande e vou te fazer o
favor de parar de enxergar teus defeitos em mim.
– O discurso é tão bonito, né?
Parece extremamente fácil quando dizes isso. Quem me dera fosse tão fácil. Mas
não é. E, por enquanto, eu prefiro continuar "medroso", como dizes. E
é até melhor que eu não te incomodo mais com esses meus defeitos e te poupo dos
discursos tão politicamente corretos e perfeitos.
– Nada é fácil. Nunca é fácil,
mas desistir antes de tentar é a pior das tuas fraquezas. E ela continuará se
repetindo.
Um comentário:
Andy Warhol já dizia "os opostos mais excitantes são aqueles que nunca se encontram". Talvez pessoas parecidas possam ter uma boa amizade, enquanto pessoas contrárias podem ter um outro tipo de relacionamento ~cês me entendem. Não que exista uma regra, mas talvez seja a tendência e talvez por isso algumas histórias ficam confusas e não dão certo.
Mas, reflexões a parte, muito bom o texto. Não podia esperar nada menos que isso, considerando a parceria na autoria do posto ;D
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