4 de nov. de 2012

Os nossos defeitos nos outros


Texto escrito em parceria com Amanda Campelo.

Photo: weheartit
– Sempre soube que a gente nunca ia dar certo.
– E por que insististe no erro?
– Ah, sei lá, momento. Eu tava me sentindo sozinho, precisando de alguém. Apareceste na hora na certa. Não tô te desmerecendo, me fizeste um bem muito grande. Mas somos parecidos demais pra conseguirmos manter isso.
– Um bem muito grande? Então agora me resumo a isso? "Um bem muito grande"? Jamais pensaste o que este teu momento de fraqueza pudesse te custar? Ou que pudesses machucar alguém. E nesse caso, o alguém é a tola aqui. Não se sai pelas ruas vagando atrás de um colo apenas por questão de momento, Diego. E agora nossas semelhanças tornaram-se incômodas? Agora nossos detalhes são uma razão a mais para que tudo acabe?
– Pra mim, pessoas muito parecidas não conseguem se dar bem por muito tempo. Tiro pelos meus outros relacionamentos, amorosos ou não. Odeio quando começo a enxergar no outro o que eu não gosto em mim.
– Então é isso? Mais um daqueles teus momentos de reflexão do universo e frases filosóficas? Por Deus! Desde quando gostarmos das mesmas músicas e termos o mesmo gênio se tornou algo tão insuportável? É isso tudo mesmo ou apenas um rodeio para esconder as verdadeiras razões? Não tenta me poupar por pena, sei me cuidar. Só quero que sejas sincero. Ou pelo menos tentes.
– Mas eu realmente tô sendo. Odeio quando enxergo nas pessoas o que não gosto em mim. Por exemplo, a tua mania de nunca terminar as coisas que prometes fazer. Eu sou assim também. Lembra o livro que começaste a escrever? Cadê? Continua lá, com duas páginas, algumas frases soltas e um título extremamente idiota. Eu sou assim também, e odeio isso em mim. Então odeio isso em ti. Moral da história: odeio encarar meus defeitos.
– E vais seguir nessa rotina até quando? Até encontrares o teu oposto complementar? Isso nunca vai acontecer. A verdade é que tens que crescer, e tá mais do que na hora de encarares os fatos: tens medo dos teus defeitos. Tem pavor de enfrentá-los e por isso simplesmente vive camuflando esses teus erros. E dessa vez não tá sendo diferente. Estás jogando mais uma vez as coisas embaixo do tapete porque não consegues criar coragem para encarar as coisas de frente. Eu só quero saber até quando?
– Eu também quero saber até quando.
– Tá vendo só? Não tens certeza das coisas que queres. Para de ser infantil e de se apoiar nos outros. Cria coragem de enfrentar teus medos. Define teus defeitos, que são muitos. Mas define sozinho, pois eu me cansei de ser apenas um bem muito grande e vou te fazer o favor de parar de enxergar teus defeitos em mim.
– O discurso é tão bonito, né? Parece extremamente fácil quando dizes isso. Quem me dera fosse tão fácil. Mas não é. E, por enquanto, eu prefiro continuar "medroso", como dizes. E é até melhor que eu não te incomodo mais com esses meus defeitos e te poupo dos discursos tão politicamente corretos e perfeitos.
– Nada é fácil. Nunca é fácil, mas desistir antes de tentar é a pior das tuas fraquezas. E ela continuará se repetindo.

Um comentário:

Mah Jardim disse...

Andy Warhol já dizia "os opostos mais excitantes são aqueles que nunca se encontram". Talvez pessoas parecidas possam ter uma boa amizade, enquanto pessoas contrárias podem ter um outro tipo de relacionamento ~cês me entendem. Não que exista uma regra, mas talvez seja a tendência e talvez por isso algumas histórias ficam confusas e não dão certo.
Mas, reflexões a parte, muito bom o texto. Não podia esperar nada menos que isso, considerando a parceria na autoria do posto ;D