Photo: weheartit |
No fone de ouvido, um rock
antigo, tão antigo que ele nem se lembrava de quando era. Talvez estivesse tão
velho quanto aquela canção, porque havia começado a esquecer de coisas bestas,
como o dia da semana, a hora de tomar remédio, a conta que venceu ontem. Mas
ele não se importava com isso. Inclusive esperava ansioso o dia em que
começaria a esquecer de coisas desagradavelmente importantes. Não via a hora de
usar a velhice como desculpa por não ter ido àquela reunião de negócios chata
com gente chata falando de um assunto chato que ele teve que aturar todos os
dias da sua vida por quase 20 anos. Ele sabia que aquela profissão fora sua
escolha, mas não era bem que isso que ele realmente gostava. Mas como isso não o levaria a outra coisa que ele também gostava muito - dinheiro
- optou então por seguir um caminho fácil porém chato que era aquela rotina de
todo santo dia, todo dia santo e você sabe o resto.
Passa tempo, idade aumenta,
velhice chega, as pessoas começam a esquecer das coisas e ele se esqueceu do
que realmente gostava. Agora só restava esquecer o que ele não gostava e então
ele poderia finalmente não lembrar mais nada.
2 comentários:
Acho que esse seu texto resume alguns dos meus maiores medos. Nada pior do que essa frustração com a vida que passou e com si mesmo.
Beijo!
das vezes que eu decido envelhecer (sim, muitas vezes penso em morrer jovem) meu maior medo é continuar nessa conformidade da carreira chata, mas também desejo muito esse esquecimento e a desculpa e prazer de ter vivido e ser velho.
Bia - Livro do dia
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